Pesquisa-ação: entenda as suas características e procedimentos

Descobrir e interpretar os fatos do mundo através da ciência requer uma investigação minuciosa e métodos adequados. A palavra vem do grego “méthodos” e significa “o caminho para chegar a um fim”. O método, portanto, é um conjunto de procedimentos e técnicas escolhidos pelo pesquisador para realizar a sua pesquisa.

Atualmente, existem diversos métodos utilizados em pesquisas científicas e que podem ser aplicados em áreas diversas do conhecimento.

A pesquisa-ação acopla no seu método a pesquisa teórica e a ação (ou seja a intervenção) em um único procedimento. No artigo de hoje, vamos falar um pouco mais sobre como surgiu esse tipo de pesquisa. Também explicamos quais são as suas características e estrutura metodológica. Confira!

Pesquisa-ação na história da investigação científica

Em 1946, o pesquisador Kurt Lewin utilizou pela primeira vez o termo “pesquisa-ação”. Ele concebeu o termo como uma prática investigativa seguida de uma reflexão autocrítica dela.

Mas, embora o termo tenha nascido com Lewin, sabe-se que a pesquisa-ação como procedimento de pesquisa científica já era utilizado desde o início do século. Por outro lado, após a criação do termo pesquisa-ação, diversos autores o utilizaram como um termo guarda-chuva para quatro tipos de procedimentos de pesquisa diferentes. Eles são: pesquisa-diagnóstico, pesquisa participante, pesquisa empírica e pesquisa experimental.

Outro detalhe é que, como a pesquisa-ação era somente uma ideia, a sua aplicação em diferentes áreas do conhecimento deu origem à tipos diferentes de pesquisas. A pesquisa-ação aplicada à educação, por exemplo, é diferente daquela aplicada à administração. Mesmo que ambas mantivessem o princípio de investigação e reflexão. No final da década de 1990, pesquisadores identificaram seis tipos de pesquisa-ação mais utilizados.

Mas, então o que é a pesquisa-ação? 

Pesquisa ação é um tipo de procedimento de investigação que segue um ciclo entre a ação prática e a investigação a respeito dela. Dessa forma, dentro de uma pesquisa-ação primeiramente planeja-se a ação. Em seguida, implementa-se o que foi planejado. Observa-se e descreve-se as reações à mudança realizada. Então, avalia-se a eficácia da ação e o que pode ser feito para melhorar a prática. E o ciclo se reinicia.

Resumidamente, é um processo no qual aprende-se mais sobre a prática e a sua investigação à medida em que se avança com ela. O autor John Elliot definiu em 1990 a pesquisa-ação como um estudo que tem a finalidade de melhorar a qualidade da ação realizada para a resolução de um problema. Ela tem como objetivo modificar a realidade através de uma prática reflexiva, onde se avalia constantemente as práticas adotadas.

Dessa forma, comporta-se como um tratamento médico. Primeiramente, realiza-se o monitoramento dos sintomas, diagnostica-se a doença, prescreve-se o tratamento. E então monitora-se a recuperação do paciente e avalia-se a eficácia do tratamento a partir dos resultados.

Em suma, é similar também a um processo de desenvolvimento. O ciclo é o mesmo, da identificação do problema até a avaliação dos resultados. Seja no desenvolvimento pessoal, profissional ou de um produto ou política. A diferença entre as situações que reúnem investigação e ação é justamente a ação aplicada a cada fase do ciclo.

As características da pesquisa-ação

Já falamos acima sobre a pesquisa-ação ter sido confundida com outros tipos de pesquisa que envolvem intervenções. As diferenças entre elas estão na sua metodologia. Ou seja, nos processos que são empregados durante a pesquisa. Definir as características da pesquisa-ação é importante para que o termo não se torne vago e amplo. Da mesma forma, definir a metodologia da pesquisa-ação nos ajuda a diferenciá-la de outras pesquisas, prevenindo erros e má aplicações. David Tripp, em Pesquisa-ação: uma introdução metodológica aponta as seguintes características da pesquisa-ação:

a) Inovadora

A pesquisa-ação volta-se para a inovação pois se propõe a solucionar um problema e, assim, melhorar uma determinada realidade. Portanto, ela sai do campo habitual, daquilo que já está inscrito no cotidiano da realidade em que se aplica.

b) Contínua

A pesquisa-ação é contínua, não sendo repetida ou realizada ocasionalmente. Dessa forma, ela deve ser aplicada regularmente, a fim de melhorar um aspecto da prática adotada.

c) Pró-ativa estrategicamente

A pesquisa-ação é pró-ativa quando é preciso realizar uma mudança. Mas suas ações são estratégicas, ou seja, são determinadas a partir da compreensão dos dados coletados. Isso só é possível através de um processo de pesquisa bem fundamentado.

d) Participativa

No seu cerne, a pesquisa-ação é uma metodologia colaborativa. As pessoas envolvidas participam ativamente da produção de conhecimento, não se concentrando somente em um pesquisador destacado. Assim, o processo da pesquisa-ação não se centra na aplicação de técnicas previamente formatadas para solucionar um problema. Suas práticas se concentram nos meios em que os métodos e técnicas de pesquisa são construídos e reconstruídos.

A característica participativa da pesquisa-ação a configura como um tipo de pesquisa social com base empírica.

e) Intervencionista

A pesquisa-ação tem como objetivo melhorar a  prática adotada em determinada realidade. Ela se aplica em cenários não manipulados. Ou seja, não segue variáveis controladas, como uma pesquisa realizada em um laboratório, por exemplo. Dessa maneira, ela se diferencia de uma pesquisa experimental, sendo melhor definida como intervencionista.

f) Problematizadora

Como um processo de aprimoramento, a pesquisa-ação se inicia na identificação de um problema. Como também uma prática reflexiva, esse tipo de pesquisa olha para o problema já de uma forma problematizadora, buscando entender a sua origem e os seus efeitos sobre os diferentes grupos em que se apresenta.

g) Deliberada

A pesquisa-ação é necessariamente deliberada, pois interfere diretamente na prática rotineira de uma determinada realidade. Desse modo, é necessário entender o cenário e fazer julgamentos competentes sobre como a ação praticada irá aperfeiçoar a situação.

h) Documentada

Como um processo de criação de conhecimento científico, a pesquisa-ação é também passível de demonstração e comprovação. Por isso, o seu procedimento contém uma prática rigorosa de documentação por meio da compilação de porfólio. Nele, são contidos levantamentos de dados, resultados, tabulações, atas de reunião, entre outros documentos pertinentes ao andamento da pesquisa.

i) Compreendida

Compreender o problema na sua totalidade é essencial para a pesquisa-ação. Só assim projeta-se mudanças que trazem melhoras para a situação e que previnem que o problema apareça novamente.

j) Disseminada

A pesquisa-ação tem uma finalidade prática para a resolução de problemas. Mas ela não deve ser contida em uma única situação ou realidade. A pesquisa-ação também volta-se para a construção de conhecimentos científicos práticos, e, por isso, é preciso ser disseminada através de publicações e pela rede de ensino.

Estrutura da Pesquisa-Ação

Como já apontamos, a pesquisa-ação apresenta uma estrutura circular. O processo constitui-se por um ciclo repetitivo de investigação e ação. Dessa forma, a cada ciclo que se inicia há condições de melhorar o anterior. Assim, a reflexão é a constante de todas as fases do ciclo da pesquisa-ação. É através da reflexão que se planeja uma ação efetiva e se constrói o conhecimento científico sobre o tema.

Apresentamos agora os passos que constituem a estrutura circular da pesquisa-ação:

1) Reconhecimento do tema 

Primeiramente, é preciso fazer um levantamento geral da situação que se interessa investigar a intervir. Este é o momento de descobrir o campo de pesquisa de uma forma aprofundado. Assim, levanta-se os principais elementos daquela realidade: seus detalhes de funcionamento, os sujeitos que estão inseridos nela e os problemas apresentados.

Essa é uma fase essencial para a delimitação de um problema a ser resolvido. Assim como os objetivos da pesquisa e da intervenção, que farão com que o trabalho realizado seja efetivo. Por isso, essa fase também é chamada de exploratória.

2) Identificação do problema e dos processos da pesquisa

Esta fase consiste na delimitação do problema que irá guiar o desenvolvimento da pesquisa. A delimitação do problema realiza-se a partir da discussão com os participantes da pesquisa. O problema deve ser claro, não apresentando ambiguidades.

Outro ponto importante é que o problema de uma pesquisa-ação é inicialmente de ordem prática. Mas isso não significa que não deve-se analisar o problema dentro do campo teórico. É por isso que nesta fase, realiza-se também um levantamento da literatura sobre o tema.

E, assim como em outras metodologias de pesquisa, é neste momento em que se definem as hipóteses. E de que forma serão coletados, analisados e avaliados os dados ao longo da pesquisa.

3) Planejamento de ações de resolução de problemas

Nesta fase, coletam-se os dados e informações necessárias para dar andamento na pesquisa. E planejam-se as intervenções futuras. Assim, empregam-se entrevistas coletivas e individuais com os participantes, realizam-se questionários e diários de campo. Assim como outros tipos de técnicas antropológicas que permitam ao pesquisador e aos participantes elaborarem um plano de ação que solucionem o problema proposto.

4) Implementação das ações planejadas

É nesta fase onde realiza-se a intervenção sobre o problema. Ou seja, onde executa-se o plano de ação realizado de forma participativa anteriormente. Assim como na fase anterior, realiza-se a coleta de dados, acompanhando os efeitos que a mudança traz para a vida dos participantes e para o cenário geral.

5) Avaliação dos efeitos das ações

Após a implementação do plano de ação, é necessário entender os seus efeitos e a sua efetividade na eliminação do problema. Esta fase envolve uma reflexão sobre os resultados da ação. Tanto os intencionais como os não-intencionais. Dessa forma, ao avaliar, faz-se uma revisão sobre todo o processo da pesquisa. Assim como a implementação, os resultados de curto prazo e os impactos da intervenção a longo prazo para aquela realidade. Através dessa reflexão, fecha-se um ciclo da pesquisa-ação. No entanto, as considerações sobre o processo realizado terão influência na ação do próximo ciclo iniciado.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a entender melhor a pesquisa-ação. Continue acompanhando nossos conteúdos para saber mais sobre outros métodos de pesquisa e mais sobre a vida acadêmica!