Pesquisa de campo: conheça as especificidades desse método científico

A visão mais comum de um cientista certamente é dentro de um laboratório. Mas este definitivamente não é o único lugar onde uma pesquisa científica pode acontecer. O contato direto com populações no seu lugar de habitação e convívio social é outra maneira de se fazer ciência, tão importante quando aquelas realizadas no laboratório.

A depender do problema a ser resolvido com a pesquisa, os pesquisadores recorrem a diferentes métodos para encontrar as respostas que procuram. A pesquisa de campo é um tipo de pesquisa científica bastante popular. Mas que causa bastante dúvidas nos estudantes que entram em contato com ela pela primeira vez. Assim, neste artigo vamos falar sobre as suas especificidades, como o seu objetivo, aplicação e métodos. Confira!

O que é uma pesquisa de campo?

A pesquisa de campo caracteriza-se por uma investigação que realiza a coleta de dados junto à população que compõem determinada realidade. Ou seja, realiza-se a observação dos fatos ou fenômenos pesquisados tal como ocorrem na realidade.

Entre os seus objetivos estão:

  • Compreender os diversos aspectos que compõem uma sociedade;
  • Obter informações sobre um fato ou fenômeno diretamente do local onde ocorre; e
  • Descobrir fenômenos novos ou ainda não estudados de uma sociedade.

Assim, entre os objetos de estudo de uma pesquisa de campo estão indivíduos, grupos, comunidades e até mesmo instituições.

Utiliza-se a pesquisa de campo em diversas áreas de estudos. Mostra-se, portanto, como uma metodologia de ampla aplicação. Entre as áreas onde mais aplica-se a pesquisa de campo estão: Antropologia, a Sociologia, Ciências Políticas, Geografia, História, Pedagogia, Psicologia, Arquitetura, Economia e Marketing.

Isso não significa, no entanto, que a pesquisa de campo não se aplica às ciências exatas. À medida em que uma pesquisa tem como objetivo a compreensão de diferentes aspectos de uma realidade, é possível ir a campo!

Pesquisa de campo é só prática?

A pesquisa de campo parecer uma investigação majoritariamente voltada à parte prática é importante ressaltar que ela só pode acontecer após uma pesquisa bibliográfica e/ou documental sobre o tema escolhido. São estudos preliminares sobre a base documental e científica do tema que dão a fundamentação teórica da investigação realizada em campo. Eles mostram quais são os caminhos já percorridos por outros pesquisadores, quais foram os resultados alcançados. E quais caminhos ainda podem ser percorridos no estudo científico deste tema.

Dessa maneira, podemos perceber que uma investigação pode contar com diferentes tipos de pesquisa. São procedimentos que, embora sejam diferentes, se complementam e potencializam a construção do conhecimento científico.

Semelhanças e diferenças com outros tipos de pesquisa

Pesquisa de campo tem algumas semelhanças com outras pesquisas que realiza a coleta de dados diretamente com a comunidade estudada. Estudantes que estão estudando metodologia de pesquisa pela primeira vez, tendem a confundir estas pesquisas. Especialmente a pesquisa e campo e o levantamento.

Comparando, por exemplo, a pesquisa de campo com o levantamento, podemos constatar o que difere os dois procedimentos. O pesquisador Antonio Carlos Gil, no livro Métodos e Técnicas de Pesquisa Social (2008), aponta que:

“Primeiramente, os levantamentos procuram ser representativos de um universo definido e fornecer resultados caracterizados pela precisão estatística. Já os estudos de campo procuram muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. Como conseqüência, o planejamento do estudo de campo apresenta muito maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa.”.

Outro ponto importante é que as duas pesquisas possuem interesses diferentes. Na pesquisa de campo, estuda-se a estrutura social de um único grupo ou comunidade. Por outro lado, o levantamento está interessado em aspectos de representação do mesmo grupo, como gênero, idade, estado civil, escolaridade, etc. A pesquisa de campo volta-se para a interação entre a sua população ou dos seus componentes. Como a associação entre os moradores ou qual a estrutura do poder local, por exemplo. Portanto, a pesquisa de campo tem a tendência a utilizar mais técnicas de observação do que de interrogação, comuns em levantamentos.

Outro ponto de destaque é que a pesquisa de campo não é uma mera coleta de dados. Ela exige um planejamento detalhado não só de quais serão os critérios de coleta, mas também os critérios de análise de dados. Ambos estão profundamente conectados e dependem um do outro para o bom andamento da pesquisa.

As fases da pesquisa de campo

Uma pesquisa científica é composta por diferentes fases. Cada uma delas possui um propósito diferente, que dá subsídios para a fase seguinte. Portanto, não é possível pular um passo, pois isso pode comprometer o bom andamento da pesquisa como um todo.

Uma pesquisa de campo constitui-se por 5 fases, sendo elas:

1º fase: Pesquisa bibliográfica

Antes de mais nada, uma pesquisa de campo não se realiza sem uma pesquisa bibliográfica. Aliás, todo tipo de pesquisa realizada necessita de uma investigação bibliográfica.

Nessa fase levanta-se estudos já realizados e publicados sobre o tema escolhido para a pesquisa. Depois, realiza-se uma leitura atenta e crítica aos estudos. Entendendo como se deu a construção do conhecimento sobre aquele tema. Tal como quais foram os resultados obtidos em pesquisas que utilizam diferentes tipos de métodos. E, por último, quais são as lacunas existentes nesta literatura. Ou seja, o que ainda não foi estudado, o que precisa de aprofundamento ou o que pode ser estudado usando outra abordagem.

2ª fase: Delimitação das técnicas de coleta e análise de dados

Nesta etapa, define-se onde e como a pesquisa será realizada. Dessa maneira, define-se a população que a pesquisa investigará. E também quais são as técnicas utilizadas na coleta de dados. Não apenas isso. Define-se também de que forma o pesquisador irá tabular os resultados e, finalmente, analisá-los. Por fim, quais são os instrumentos e recursos necessários realizar as etapas seguintes. É importante lembrar que a escolha de todas as técnicas de coleta devem visar a testagem da hipótese da pesquisa.

3ª fase: Ida a campo 

Enfim, a ida a campo! É nesta fase onde realiza-se a coleta de dados. Os dados são as informações necessárias para testar a hipótese da pesquisa. Além disso, são determinados por variáveis e indicadores já previstos na delimitação do estudo.

Munido de um método, recursos e instrumentos, o pesquisador realiza uma coleta sistemática das informações pertinentes ao estudo. É uma fase essencialmente prática. Portanto, a forma como o pesquisador conduz a coleta de dados é muito importante.

4ª fase: Processamento dos dados coletados

Na etapa que sucede a ida a campo, realiza-se a tabulação e ordenação dos dados coletados. Atualmente, os recursos computacionais são aqueles que dão o melhor suporte para a elaboração de planilhas, tabelas, gráficos e quadros a partir dos dados coletados. No entanto, a depender do estudo realizado e dos seus objetivos, processa-se os dados também de forma manual.

5ª fase: Análise e discussão dos resultados

A análise e discussão de resultados é a parte mais importante de uma pesquisa. É nesta fase onde o pesquisador analisa os dados tabulados com base nos seus conhecimentos teóricos sobre o tema. Assim, esta fase conversa diretamente com a pesquisa bibliográfica, realizada no início da pesquisa. Portanto, é nesta fase que o pesquisador mostra sua capacidade de interpretar dados e contextualizá-los na literatura selecionada.

Outro ponto importante é que a análise deve atender aos objetivos da pesquisa, estabelecidos no seu projeto. Com isso, também confronta-se as hipóteses iniciais do pesquisador com os resultados obtidos. Estas hipóteses podem ser confirmadas ou negadas.

A importância das fases de pesquisa

Percebe-se que as duas primeiras fases são preparatórias para a própria ida a campo. É no contato com a comunidade pesquisada (ou seja, no campo) onde a coleta de dados se realiza.

Mas muitas pessoas acreditam que somente esta fase constitui a pesquisa de campo, o que é uma ideia falsa. Dificilmente uma coleta de dados em campo seria bem sucedida sem o estabelecimento de parâmetros e técnicas de coleta e de análise.

O sucesso da pesquisa também depende do conhecimento prévio do pesquisador sobre outros estudos que já foram feitos sobre o tema ou problema em questão. A produção de conhecimento torna-se mais relevante à medida em que o pesquisador é capaz de fazer análises críticas e dialogar com a literatura já produzida. Tudo isso possibilita ao pesquisador formular as suas conclusões sobre o estudo realizado. E que ele possa fazer contribuições importantes para a compreensão científica do assunto.

Portanto, uma pesquisa documental é composta por diversas etapas interligadas. Uma fornece a base para que a outra possa se desenvolver, garantindo a qualidade do estudo realizado.

Tipos de pesquisa de campo

A pesquisa de campo também se divide em tipos diferentes, a depender da área de aplicação e os objetivos do estudo. Confira quais são os três tipos de pesquisa de campo:

1. Quantitativas-Descritivas

Esse tipo de pesquisa de campo visa dar um panorama inicial sobre a realidade e a população observada. Por isso, alia a abordagem quantitativa à descritiva. Busca, assim, apreender a totalidade do contexto e da experiência daqueles que estão vivenciando o fenômeno estudado. Tendo como objetivo analisar fatos, avaliar programas e isolar as principais variáveis do problema investigado.

Dessa maneira, utiliza como técnicas de coletas de dados, por exemplo, entrevistas, questionários e formulários. Com isso, é possível conferir hipóteses, confirmando-as ou descartando-as conforme os resultados obtidos.

2. Exploratórias

Nesta abordagem, o objetivo da investigação é proporcionar maior familiaridade do pesquisador com o problema. Dessa maneira, torna o problema explícito, auxiliando o pesquisador a delinear o projeto final da pesquisa e a construir suas hipóteses. A pesquisa de campo do tipo exploratória é utilizada em muitos casos como uma pesquisa preliminar. Pois ela facilita a escolha das técnicas de coleta de dados e a elaboração e roteiro delas. Servindo de base para uma pesquisa futura.

Entre as suas técnicas de coleta de dados mais comuns estão os questionários, entrevistas e a observação.

3. Experimentais

Nesta abordagem, a pesquisa de campo ganha elementos da pesquisa experimental. Seu objetivo é testar uma hipótese já formulada que seja tipo causa-efeito. Assim, o estudo de campo utiliza projetos experimentais a fim de controlar ao máximo fatores pertinentes à pesquisa. Por exemplo, alguns destes fatores são: grupo de controle, seleção de amostra probabilística e manipulação de variáveis independentes.

Esperamos ter tirados suas dúvidas sobre pesquisa de campo. Continue acompanhando nosso site para mais conteúdos sobre os diferentes tipos de pesquisa acadêmica!