O Princípio de Dilbert e a ascensão de gerentes ruins

Em 1989, o economista e cartunista Scott Adams lançou a primeira edição de uma tirinha que ficaria mundialmente famosa na década de 1990: Dilbert. O personagem é um engenheiro na faixa dos 30 anos que trabalha em um escritório de uma empresa de alta tecnologia. Ele vive com o seu cachorro Dogbert e prefere estar por perto de computadores ao invés de pessoas.

Com suas histórias críticas ao racionalismo, relações de poder e burocracia dos ambientes corporativos, o universo de Dilbert foi um grande sucesso de público e crítica. Ela chegou a ser publicada em mais de cem países e o personagem e o seu universo corporativo ganhou série animada de TV e até mesmo um videogame.

Mas você já ouviu falar sobre o Princípio de Dilbert? Desenvolvido pelo criador do personagem, a ideia do princípio chamou muito atenção e levantou diversas discussões sobre a ascensão profissional de funcionários ineficazes e o papel da gerência em uma corporação.

Neste artigo, vamos falar um pouco sobre como surgiu este princípio, suas principais ideias e seu desdobramentos na discussão sobre crescimento profissional. Confira!

De onde surgiu o Princípio de Dilbert?

Ao longo desse tempo elaborando as tirinhas, Adams explorou algumas vezes um conceito que chamou de Princípio de Dilbert nas suas tirinhas diárias, em artigos para jornal Wall Street Journal e num livro, lançado em 1996, onde ele explora mais sobre a ideia em um tom satírico.

Segundo Adams, o Princípio de Dilbert diz respeito à sistemática que empresas têm de promoverem funcionários ineficazes ou incompetentes para postos para cargos de gerência. Esta promoção tem o efeito de um controle de danos, colocando-os em postos distantes do trabalho efetivo, que poderia ser prejudicado por sua ineficácia profissional.

Como falamos anteriormente, Adams é um economista, formado na University of California, Berkley. Ele atuou na profissão por muitos anos, trabalhando em escritórios até que foi demitido em um corte de verbas. Desempregado, Adams começou a criar todo o universo corporativo de Dilbert, baseando suas histórias no cotidiano do escritório e no comportamento corporativo que ele observava na sua própria profissão.

O papel da gerência no Princípio de Gilbert

É possível perceber que Adams, ao elaborar a ideia do princípio de Gilbert, vê as posições de gerência dentro de uma empresa de uma forma bastante negativa. Isso porque, segundo ele, os funcionários promovidos à posições de gerência eram aqueles que tinham os piores desempenhos na sua função anterior.

Assim, a ascensão profissional seria uma forma da empresa tirar este funcionário do caminho, colocando-o em uma posição irrelevante para a empresa ou que simplesmente não atrapalharia o desempenho dos outros funcionários. Esta ascensão se concentra principalmente nos cargos de gerência, que segundo Adams, teriam pouca relevância para o funcionamento de uma empresa ou equipe de trabalho.

Ou seja, o trabalho de um gerente seria mais simples do que o trabalho dos funcionários que ele gerencia e que estão abaixo dele na hierarquia da empresa. Suas tarefas então seria somente participar de reuniões pouco produtivas e darem advertências à funcionários que não cumprem suas atribuições.

O livro-sátira de Adams ainda se propõe a falar com gerentes da vida real, a fim deles fazerem uma auto-avaliação e pensarem se se encaixam no perfil do Princípio de Dilbert. Confira um trecho:

  • Você acredita que tudo aquilo que não compreende deve ser fácil de fazer?
  • Acha necessário explicar com muitos detalhes porque “lucro” é a diferença entre receita e despesa?
  • Acha que os funcionários deveriam marcar enterros só nos fins-de-semana?
  • Quando as pessoas olham para você sem acreditar no que ouviram, você repete exatamente o que acabou de dizer, só que mais alto e devagar?

Ascensão profissional em discussão

Embora o princípio seja bastante rejeitado por acadêmicos, por se tratar de um livro de humor, sem o rigor de uma pesquisa científica. Além disso, apesar de ter sido um bestseller no seu lançamento, o livro foi desacreditado por descrever um sistema de ascensão profissional que não fazia sentido nos parâmetros de hierarquia corporativa. No entanto, muitos profissionais passaram a reconhecer que prática descrita por Adams é ainda muito comum em empresas.

Outro ponto interessante é que a ideia de ascensão profissional do Princípio de Dilbert é o extremo oposto de outra ideia bastante popular no mundo corporativo: o Princípio de Peter.

Publicada em 1969, o Princípio de Peter ou Princípio da Incompetência foi descrito pelo administrador Laurence J. Peter. Nela, o autor descreve a ideia de que a promoção de um funcionário acontece somente quando elas fazem bem o seu trabalho. Dessa maneira, ela ascende profissionalmente até atingir um degrau na hierarquia em que é incompetente, dessa maneira, sua carreira se estagna. É através desta ideia que Peter explica a existência de gerentes ruins: são funcionários que não conseguiram se desenvolver nos aspectos desta posição, mas que eram ótimos no seu cargo anterior.

O Princípio de Dilbert trouxe uma outra visão sobre o comportamento de gerentes ruins e a cultura organizacional das empresas, assim como as suas políticas de ascensão profissional e a importância de cada cargo dentro de uma empresa.