Antifrágil: o significado desse conceito e como aplicá-lo à sua vida

Você já ouviu falar do conceito de Antifrágil? O professor de riscos do Instituto Politécnico da Universidade de Nova York, Nassim Nicholas Taleb foi o responsável pelo seu desenvolvimento. O conceito engloba a ideia de que devemos sempre estar esperando o inesperado. Pois vivemos em uma sociedade que possui sistemas complexos.

O conceito é amplo e, por isso, pode ser aplicado a todas as áreas da nossa vida. Seja na forma como pensamos os nossos relacionamentos, trabalho, estudos, etc. Aplica-se na política, nas finanças, na tecnologia, moda e qualquer outro setor ou área do conhecimento. Sua única regra é: tudo está suscetível ao estresse, às mudanças e a algum tipo de variação.

Ficou curioso sobre o Antifrágil? Neste artigo, explicamos melhor a ideia por trás deste conceito. Confira!

Antifrágil: o que significa esse conceito?

Na mitologia grega, existe um monstro que habita o pântano próximo ao lago de Lerna chamado Hidra. De acordo com a lenda, a Hydra possui o corpo de um dragão e cabeças de serpente. Sim, cabeças. Isso porque quando se corta uma cabeça da Hidra, duas novas crescem no seu lugar.

A Hidra é um monstro mitológico que foi utilizado por Nassim Taleb no seu livro “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos” (2012). Ao explicar o conceito de Antifrágil, ele escreve que “Algumas coisas se beneficiam de choques; eles prosperam e crescem quando expostos à volatilidade, aleatoriedade, desordem e fatores estressantes e amam a aventura, o risco e a incerteza.” 

Assim como uma Hidra, o Antifrágil é aquilo que se fortifica dos choques e das dificuldades que enfrenta. Assim, definitivamente não se pode chamar de frágil. Afinal, frágil é aquilo que se quebra facilmente e que dificilmente pode se recuperar de um trauma. Por outro lado, também não é resiliente. Pois a definição de resiliente corresponde àquilo que resiste aos choques, mas que permanece o mesmo.

A palavra é nova, mas o fenômeno não. Taleb aponta que o Antifrágil é uma propriedade que está por trás de tudo aquilo que passou por mudanças ao longo do tempo. A própria evolução, a cultura, revoluções, sistemas políticos, inovações tecnológicas, sucessos econômicos. De acordo com ele, “(…) a antifragilidade determina a fronteira entre o que é vivo e orgânico (ou complexo), digamos, o corpo humano, e o que é inerte, digamos, um objeto físico como o grampeador em sua mesa.”

Como lidamos com eventos inesperados

Antifrágil se relaciona diretamente com outra ideia explorada por Taleb: a do Cisne Negro. Em “A Lógica do Cisne Negro: O impacto do altamente improvável” (2008), Taleb vai contra a maior parte dos economistas ao apontar que eventos imprevisíveis e de grande impacto não são tão raros quanto parecem.

A ideia do Cisne Negro retorna à um episódio observado durante a colonização da Oceania, no século XVII. Naquele período, acreditava-se que todos os cisnes que lá habitavam eram brancos. Nunca ninguém havia visto um cisne com penas pretas. No entanto, isso mudou quando os colonizadores chegaram àquele novo território. No território que hoje conhecemos como Austrália, encontraram cisnes brancos e pretos. Fato que colocou por terra a ideia de que todos os cisnes eram brancos. Os cisnes pretos existiam, só não eram conhecidos antes.

De acordo com Taleb, o Cisne Negro é um subproduto de um sistema complexo. Nesses sistemas, existem diversas interações previsíveis, pois já foram constatadas no passado. No entanto, existem diversas outras interações que não podemos prever. Isso não significa, no entanto, que esse evento nunca aconteceu antes. Ele pode não ser exatamente uma novidade no mundo, mas nunca ter sido devidamente observado e estudado. Assim como os cisnes negros na Austrália.

Dessa forma, Taleb se contrapõe à maior parte dos economistas, que acreditam que todos os eventos podem ser previstos. Taleb aponta que as interações dentro de um sistema geralmente são previsíveis, mas há exceções.

Assim, Taleb define os Cisnes Negros como eventos que possuem três características básicas:

  1. Estão fora do reino das expectativas, pois não foram comprovados ao longo da história
  2. Têm um impacto extremo sobre a realidade social; e
  3. Apesar de ser atípico, depois que ele ocorre podemos explicá-lo rapidamente, prever ocorrências e minimizar seus impactos para o futuro.

Antifrágil como antídoto para o Cisne Negro

Você pode estar se perguntando qual a relação entre os dois conceitos desenvolvidos por Taleb.

Quando um evento tipo Cisne Negro é constatado, é comum que as pessoas reajam de forma exagerada à ele. De acordo com Taleb isso ocorre por causa da ilusão de previsibilidade das coisas. Ou seja, quando algo sai do planejado, o choque causa medo e traz a vontade de colocar as coisas em ordem, como eram antes. Mas essa lógica tende a nos deixar ainda mais expostos aos danos dos Cisnes Negros.

Assim, não tiramos nenhum tipo de benefício ou lição dele. Nos tornamos frágeis.

O conceito de Antifrágil é importante justamente porque nos ajuda a lidar com as incertezas dentro do sistema complexo em que a sociedade vive. É impossível prever todas as interações e variantes que podem ocorrer. Tentar lidar com esses eventos usando a mesma lógica linear de antes é permitir que o sistema se quebre por completo. A sobrevivência também depende da capacidade de lidar com os eventos imprevisíveis e tirar benefícios dele. Ou seja, nas palavras de Taleb: “(…) precisamos de um mecanismo pelo qual o sistema se regenere continuamente usando, em vez de sofrer com eventos aleatórios, choques imprevisíveis, estressores e volatilidade.”

Como aplicar o conceito de Antifrágil no seu dia-a-dia 

O primeiro passo para aplicar este conceito é analisar tudo aquilo que pode ser considerado frágil. Ou seja, todos os elementos que, submetidos a um choque, não poderiam ser reconstituídos.

Como aponta Taleb, as coisas nem sempre são previsíveis, por isso, erros podem acontecer. Temê-los, fingir que não aconteceram ou minimizá-los são as piores atitudes que podem ser tomadas. Portanto, ser antifrágil significa compreender a realidade como ela é e não como gostaríamos que ela fosse.

Líderes de segmentos diferentes de empresas dos mais diversos tamanhos têm adotado o conceito. Ele tem se mostrado eficaz ao fornecer uma base para a tomada de decisões no dia-a-dia. A incorporação dessa ideia é algo simples, mas que demanda uma mudança na postura dos líderes. Algumas atitudes são:

  • Feedbacks constantes e diretos entre a equipe;
  • Erros não impedem que as decisões sejam tomadas ou que planos sejam colocados em ação;
  • Experiências de terceiros e novos conhecimentos sobre os desafios enfrentados são assimilados;
  • Mesmo que as coisas vão bem, evita-se uma postura confiante e confortável; e
  • Por outro lado, não se intimida por incertezas.