Pesquisa empírica: conheça as características desse modelo de pesquisa

O cuidado com a metodologia utilizada na produção de conhecimento é um assunto que todo pesquisador deve estar atento. Ao longo dos séculos de desenvolvimento da ciência, grandes pesquisadores tiveram a preocupação em conceituar e discutir seus métodos de pesquisa.

Seja na área das ciências humanas, exatas ou biológicas, a investigação sobre a realidade e a nossa possibilidade de interagir e intervir nela é realizada através de métodos e técnicas de análise. Isso acontece porque o conhecimento científico é passível de demonstração e de comprovação. Desse modo, é necessário um rigor com os métodos e técnicas empregados para a investigação de fatos ou fenômenos da realidade.

Quando falamos em métodos de pesquisa, é comum que muitos estudantes fiquem confusos e se sintam perdidos. Neste artigo, vamos falar sobre a pesquisa empírica: desde o seu conceito até a sua aplicação em pesquisas científicas hoje. Confira!

As classificações das pesquisas científicas

Uma das grandes preocupações dos pesquisadores que estão começando a desenvolverem suas pesquisas é com relação às questões metodológicas dos seus estudos. A explicação dos procedimentos adequados e as suas características específica é fundamental para a realização de boas pesquisas.

Ao longo do tempo, autores olharam para a classificação da pesquisa científica e os seus métodos de formas diferentes. Uma das formas mais comuns de classificar as pesquisas é a partir dos seus objetivos e dos procedimentos técnicos adotados para realizá-la. Com relação aos objetivos, divide-se as pesquisas em três grupos: as pesquisas exploratórias, descritivas e explicativas. Já em relação aos procedimentos, encontramos as pesquisas bibliográficas, documentais, experimentais, os estudos de caso, levantamentos, ex-post-facto, entre outras.

Outros autores defendem outra classificação das pesquisas científicas em relação à sua natureza.  Essa classificação dá origem a pelo menos quatro gêneros de pesquisas científicas. São eles:

Pesquisa teórica

Trata-se de um tipo de pesquisa dedicada à construção de conceitos, ideias, termos imediatos, ideologias e aprofundamentos teóricos sobre outros temas já discutidos na ciência. Como o nome já diz, a pesquisa teórica mantêm-se essencialmente no campo da teoria. Por isso, não realiza uma intervenção imediata na realidade em que vivemos. No entanto, isso não quer dizer que ela seja menos importante ou menos complexa do que as pesquisas que se refletem em atividades práticas! A pesquisa teórica tem um papel importante na criação de condições que irão propiciar a intervenção de pesquisas posteriores.

Outras características marcantes da pesquisa teórica é o seu rigor conceitual, desempenho lógico, sua capacidade explicativa, análise acurada e argumentação diversa.

Pesquisa metodológica

A pesquisa metodológica volta-se para a averiguação de métodos e procedimentos adotados nas investigações científicas. Dessa maneira, este gênero de pesquisa investiga a própria produção científica: os seus paradigmas, métodos, técnicas dominantes ao longo do tempo e até mesmo as suas crises.

Pesquisa prática

Enquanto a pesquisa teórica está ligada à construção e conceituação das ideias, a pesquisa prática volta a sua construção de conhecimento para a práxis. Ou seja, para a realização de intervenções na realidade. Mas sem abandonar ,é claro, o rigor metodológico.

Pesquisa empírica

E, finalmente, a pesquisa empírica se dedica ao tratamento daquilo que é perceptível na realidade. O modelo empirista baseia a construção do conhecimento científico na experiência do mundo sensível. Ou seja, a partir da percepção de determinada realidade a partir dos sentidos (a visão, o tato, a audição,…). Dessa maneira, a partir da perspectiva de um empirista, não é possível estudar um objetivo quando ele não apresenta respostas perceptíveis pelos nossos sentidos físicos. Portanto, os objetos de estudo das pesquisas empíricas são todos aqueles que, investigados, apresentam respostas perceptíveis.

Para receber estas respostas, é necessário realizar experimentos dentro na realidade estudada. A partir destas respostas, é possível realizar análises, comparações e chegar a formulações e outras conclusões. Dessa maneira, a ciência empírica se baseia no pressuposto de que leis regem a natureza. E a lei se torna científica à medida em que podemos demonstrá-la, ou seja, através de um experimento que resulte em respostas perceptíveis pelos nossos sentidos.

De acordo com Demo, a pesquisa empírica “oferece maior concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base fatual”. Outro ponto em que ele toca é que uma pesquisa empírica não é construída sobre de experimentos. A análise dos dados empíricos e a construção de conhecimento depende do referencial teórico. Trata-se, assim, de uma pesquisa que alia teoria e prática em uma ideia muito específica de construir ciência.

No entanto, embora estes gêneros se distinguem uns dos outros, uma pesquisa acadêmica não precisa seguir puramente um ou outro. De acordo com o sociólogo Pedro Demo, no livro “Metodologia do conhecimento científico”, nenhum dos gêneros de pesquisa são auto-suficientes. Na prática, ao realizar a sua pesquisa, o pesquisador mescla todos os gêneros, dando maior destaque para este ou aquele gênero de pesquisa.

O modelo empirista na ciência

O empirismo é não é um modelo novo de olhar para a ciência. Ele foi proposto na idade média européia, num movimento que questionou a especulação teórica como única maneira de se fazer ciência. A princípio, a ideia de realizar pesquisas baseando-se na observação empírica, em testes experimentais e na mensuração quantitativa causou uma verdadeira revolução na ciência. A partir do empirismo os cientistas passaram a buscar resultados práticos para as suas pesquisas.

Criou-se, a partir do empirismo, inúmeras técnicas de coleta e análise de dados. Seu desenvolvimento deu origem à metodologia científica, ou seja, para o próprio estudo dos métodos utilizados nas investigações da ciência.

Seu método de investigação é a indução, elaborado pelo filósofo Francis Bacon. Este método considera as circunstâncias e a frequência em que um fenômeno se manifesta para a elaboração de conclusões a respeito. Dessa forma, o fenômeno só é constatado após casos concretos dele serem observados na natureza. Outro ponto importante da indução é que, neste método, chega-se a conclusões prováveis e não definitivas sobre um fato ou fenômeno. Este é o caso oposto do método dedutivo, elaborado anteriormente por René Descartes. Nele, uma teoria é generalizada e aceita após a constatação de casos particulares. Um exemplo popular do raciocínio dedutivo é: Todo homem é mortal; João é homem; logo, é mortal.

E é importante ressaltar que o modelo empirista elaborado na idade média não é o mesmo que se aplica na pesquisa empírica hoje. A ciência, como podemos perceber, está em constante mudança. Muito discutiu-se (e discute-se) sobre os modelos de pesquisa e os métodos utilizados na ciência.

O passo a passo de uma pesquisa empírica

O planejamento e organização é fundamental para a realização de uma pesquisa, independente do método escolhido para executá-la. Planejar as etapas de uma pesquisa permite ao pesquisador se esquivar de obstáculos que poderão aparecer pelo caminho. E, com isso, ele poderá realizar uma pesquisa ainda melhor.

Como a pesquisa empírica envolve observação e experimentos, o planejamento das atividades é ainda mais importante!

1. Defina o problema da pesquisa

Toda pesquisa começa pela definição e delimitação de um tema a ser investigado. Neste momento o pesquisador aponta o problema que se busca solucionar a partir da pesquisa e quais são os seus objetivos ao realizá-la.

2. Realize a pesquisa e fundamentação teórica sobre o assunto

A produção científica se faz a partir do aprofundamento de conhecimentos anteriormente elaborados. Por isso, a fundamentação teórica sobre o tema escolhido é essencial para qualquer tipo de pesquisa, inclusive a empírica!

Comece a sua pesquisa buscando fontes em bibliotecas e arquivos digitais a partir das palavras-chave relacionadas. Faça a leitura dos resumos disponíveis no início de cada trabalho e elimine aqueles que não se encaixam na sua proposta de pesquisa. Em, em seguida, faça a leitura completa e crítica das fontes selecionadas e retire delas reflexões interessantes para fundamentar a sua própria pesquisa.

3. Crie hipóteses

Hipóteses são suposições que tentam responder ao problema levantado em uma pesquisa. São criadas nos primeiros momentos de elaboração da pesquisa, antes da experimentação, coleta e análise de dados. O trabalho realizado pela pesquisa poderá confirmar ou negar a hipótese estabelecida.

4. Descreva a metodologia e os detalhes da coleta e análise de dados

Como já falamos anteriormente, existem diferentes tipos de pesquisas científicas. Cada uma corresponde a uma forma diferente de se fazer ciência, com tipos de coleta e análise de dados distintas, por exemplo.

É importante que o pesquisador seja capaz de justificar a importância de estudar o tema escolhido a partir de determinada metodologia de pesquisa. Ao fazer isso, também descreve-se as estratégias escolhidas para a realização da pesquisa, como os medidores e parâmetros que guiarão a coleta e análise de dados. A depender da pergunta da pesquisa, é importante também definir as amostras e as variáveis envolvidas.

5. Colete e analise os dados obtidos

Esta é a etapa que muitos pesquisadores consideram como a “pesquisa em si”. No entanto, é só mais uma parte de um todo que é considerado uma pesquisa científica. É neste momento em que realiza-se o experimento (sob as técnicas e métodos apontados anteriormente). Depois, estes dados serão processados e analisados pelo pesquisador a fim de obter informações que o levem a confirmar ou negar as suas hipóteses iniciais.

6. Conclusão

Na última etapa da pesquisa, é hora de fazer uma retrospectiva do trabalho realizado. Apresentar os resultados obtidos, suas relações com a teoria estudada e quais são as sugestões do pesquisador para uma melhor compreensão do assunto (e para pesquisas posteriores).

Esperamos ter tirado suas dúvidas sobre a pesquisa empírica com este post. Continue acompanhando nossos conteúdos para mais artigos como esse e dicas de como elaborar seus trabalhos acadêmicos!