Redação narrativa: o que é e qual a sua estrutura, com exemplos

Enquanto o ENEM e a Fuvest (prova da USP) pedem sempre uma redação dissertativa-argumentativa, o mesmo não acontece em outros vestibulares. A prova da UNICAMP, por exemplo, costuma variar a sua proposta de redação, incluindo outros tipos de estrutura de texto.

Mas isso não significa que quem vai fazer o ENEM ou a Fuvest, por exemplo, não deve conhecer outros tipos de redação. Muito pelo contrário! Afinal, a redação é só uma das partes de um vestibular. A redação narrativa é base para a formulação de questões de língua portuguesa (mas não só) nas diferentes provas. Afinal, conhecer os diferentes tipos de estrutura de redação e conseguir produzir textos em todas elas é uma habilidade que todo aluno deve ter ao finalizar o ensino básico. Então não dá para deixar de estudar esse tópico!

Se você tem dúvidas sobre o que é uma redação narrativa e como escrever uma, está no lugar certo! Neste artigo, vamos nos aprofundar no assunto e te dar algumas dicas de como se sair bem tanto na redação como na interpretação de narrativas.

Confira!

O que é redação?

Antes de falarmos sobre a redação narrativa, vamos começar esclarecendo o que é uma redação. Em poucas palavras, redação é o ato de redigir ou escrever um texto.

Aqui, não importa a ferramenta usada: se é o lápis/caneta e papel ou se é o teclado e a página em branco do Microsoft Word. O conteúdo também pode mudar: se é uma lista de supermercado, uma receita de bolo, uma thread no Twitter, uma poesia, um artigo de jornal ou texto acadêmico. Não importa também o tamanho do texto, qual a língua utilizada ou se utiliza a norma culta ou não. Todos utilizam palavras para passar uma mensagem para o leitor e, por isso, são definidos como redações.

Conhecendo os diferentes tipos de redação

Como vimos, não existe só um jeito de redigir um texto. Dependendo da proposta do autor, ele pode escolher escrever de determinada forma ou de outra. Mas para isso, ele precisa conhecer antes os diferentes tipos de redação.

Em suma, a redação se divide em três grandes grupos:

  1. Redação descritiva, que tem como objetivo descrever em detalhes um objeto, pessoa, lugar ou evento. Ela parte principalmente da observação de quem escreve (ou do relato de outra pessoa) e utiliza muitos adjetivos no seu texto para falar sobre as características daquilo que pretende descrever;
  2. Redação dissertativa, que tem como objetivo apresentar um assunto e defender um ponto de vista sobre ele através de argumentos embasados por dados. Sua estrutura consiste numa introdução, argumentação e conclusão do tema; e, enfim,
  3. Redação narrativa, que tem como objetivo contar uma história, seja ela real (não-ficção) ou inventada pelo autor (ficção). É normal pensarmos primeiro em romances, contos e crônicas quando pensamos em exemplos de redação narrativa, mas vale ressaltar que esse tipo de texto também é muito usado no campo da publicidade (o famoso storytelling).

A redação narrativa tem como base uma sequência de ações, ou seja, uma sequência de acontecimentos nos quais as suas personagens estão envolvidas. Ela é desenvolvida durante um determinado tempo (que pode ser de minutos, horas, dias, anos, décadas…) e também em um determinado espaço (uma casa, uma cidade, uma espaçonave…). Tudo depende do que o autor quer contar e como ele escolhe contar essa história.

Mas essas não são as únicas características de uma redação narrativa. A seguir, falamos sobre os elementos que compõem a estrutura de uma redação narrativa.

A estrutura da redação narrativa

Uma redação narrativa é composta por diversos elementos costurados juntos. Abaixo, descrevemos cada um.

Enredo

Elemento fundamental de uma narrativa, o enredo é nada mais nada menos do que a história a ser contada. Ele é composto pelo conjunto de fatos que acontecem ligados entre si. Esses fatos podem ser organizados de forma linear (isto é, acontecem em ordem cronológica) ou não-linear (são revelados na narrativa sem uma ordem cronológica).

Como mencionamos, uma redação narrativa tem como objetivo narrar uma história. E para ter sucesso, é importante que a história tenha começo, meio e fim, ou, em outras palavras:

  • Introdução (apresentação), onde os personagens são apresentados e somos ambientados ao tempo e ao local onde a história se passa;
  • Desenvolvimento (conflito), quando o conflito se estabelece na história, fazendo com que os personagens tenham que lidar com uma virada nas suas vidas;
  • Clímax (ápice), a sequência de ações dos personagens e acontecimentos da história faz com que a tensão e/ou emoção aumente. Geralmente, é o momento em que os personagens precisam tomar uma decisão importante; e, claro,
  • Conclusão (encerramento), onde o conflito se dissolve e  vemos as consequências dele na vida dos personagens.

Personagens

Já mencionados anteriormente, os personagens são aqueles indivíduos que participam da história. Eles podem ser:

  • Protagonista ou principal: o foco da história, ela está no centro do enredo e dos conflitos.
  • Coadjuvante: participa da história, mas tem uma importância menor no desenrolar do enredo.
  • Antagonista: participa da história se opondo à personagem protagonista. Muitas pessoas associam antagonista à vilão, mas não é sempre assim. Isso porque uma história pode ter vários vilões, sendo alguns deles coadjuvantes. Por outro lado, um vilão também pode ser o protagonista da história enquanto a(o) mocinha(o) é o seu antagonista.

Espaço

É o lugar onde a história acontece. Ainda que seja um espaço fictício, é importante ambientar o leitor sobre como são os cenários e também qual a cultura local (como as pessoas se vestem, como se comportam) pois isso impacta na formação dos personagens.

Tempo

Quando a história se passa. É no passado? No presente? No futuro? Na nossa realidade, num universo alternativo ou num mundo totalmente inventado? Essas informações são importantes por diversas razões. Através delas, você consegue delinear seus personagens, os conflitos que eles enfrentam, os cenários onde se passam à história e também de que forma você irá narrá-la.

Narrador

Quem irá contar a história. Na maioria dos casos trata-se de uma pessoa, mas isso não é uma regra. De acordo com o foco narrativo que o autor quer dar para a história, o narrador pode se apresentar de diferentes formas.

  • Onisciente: também conhecido como o narrador que sabe de tudo, até mesmo o que se passa na mente dos personagens. E, claro, sabe de todos os detalhes da história, isto é, o passado, o presente e também o futuro de todos os envolvidos no enredo. Em geral, trata-se de um narrador que não participa da história, por isso, ele a narra em terceira pessoa (ele/ela). Nesse sentido, ele pode ser intruso (se posiciona sobre os fatos da trama), neutro (não se posiciona) ou múltiplo (estimula o leitor a se posicionar).

Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.

Trecho de ‘Vidas Secas’, Graciliano Ramos

  • Observador: como o próprio nome já indica, o narrador observador é aquele que observa de longe os acontecimentos da história, sem participar deles. Sua narração é feita em 3ª pessoa. Confira um exemplo:

Rubião é que não perdeu a suspeita assim tão facilmente. Pensou em falar a Carlos Maria, interrogá-lo, e chegou a ir à Rua dos Inválidos, no dia seguinte, três vezes; não o encontrando, mudou de parecer. Encerrou-se por alguns dias; o Major Siqueira arrancou-o à solidão. Ia participar-lhe que se mudara para a Rua Dois de Dezembro. Gostou muito da casa do nosso amigo, das alfaias, do luxo, de todas as minúcias, ouros e bambinelas. Sobre este assunto discorreu longamente, relembrando alguns móveis antigos. Parou de repente, para dizer que o achava aborrecido; era natural, faltava-lhe ali um complemento.

Trecho de ‘Quincas Borba’, de Machado de Assis

  • Personagem: por outro lado, o narrador personagem é aquele que participa de alguma forma do enredo da história. Assim, ele tem acesso aos próprios pensamentos, mas não os dos outros personagens. Sua narrativa é em 1ª pessoa (eu). Confira um exemplo:

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

Trecho de ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis

Vale ressaltar que uma história não precisa ser totalmente narrada pelo mesmo ponto de vista. Muitas histórias são contadas por dois narradores, intercalando os capítulos entre si.

Discurso

Ainda falando sobre narração, mas especificamente sobre como a fala dos personagens irá aparecer na narrativa. Existem três formas de escrever a fala de um personagem. Mas atenção: não precisa se limitar a uma só no seu texto!

  • Direto: a fala do personagem aparece completa e demarcada, de forma que se diferencia do restante do texto. Aqui no Brasil, essa demarcação é feita principalmente pelo uso do travessão (–), mas também dá para usar aspas (“”).

— Errou! interrompeu Camilo, rindo.

— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria..

Trecho de ‘A Cartomante’, de Machado de Assis

  • Indireto: nesse caso, não temos acesso à falta do personagem, mas a uma exposição do narrador sobre o que foi dito. Como não há outro sujeito falando, não há necessidade de separar o discurso do restante do texto.

Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas.

Trecho de ‘A Cartomante’, de Machado de Assis

  • Indireto livre: uma fusão do discurso direto e indireto. Aqui, vemos parte do discurso do personagem reproduzido e parte explicada pelo narrador.

Camilo riu outra vez:

— Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe.

Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.

Trecho de ‘A Cartomante’, de Machado de Assis

Esperamos que todas as suas dúvidas sobre redação narrativa tenham sido sanadas! Agora é hora de colocar seus conhecimentos em prática. Se você está se preparando para o ENEM ou qualquer outra prova de vestibular, não deixe de praticar sua escrita e interpretação de redações narrativas.