Periódico científico: como buscar sua bibliografia e publicar artigos

Recentemente, a base de dados Scopus/Elsevier, que monitora o índice de publicação de artigos acadêmicos em todo o mundo revelou um fato inédito: a produção brasileira teve uma queda de 7,4% em 2022 em relação ao ano anterior.

Além do Brasil, outros 23 países também tiveram recuos nas suas publicações. O número representa quase metade dos 51 países avaliados pela base de dados, que considera somente aqueles que produzem mais de 10 mil artigos por ano.

Vários fatores impactam a produção científica de um país, sendo o principal deles, segundo a Elsevier, a pandemia de Covid-19. Ainda que o maior impacto da pandemia nas nossas vidas tenha ocorrido entre 2020 e 2021, seus reflexos só foram sentidos na produção científica em 2022. Isso se dá porque há um grande intervalo de tempo entre a elaboração de um projeto de pesquisa, sua realização, redação e a publicação.

No caso da produção brasileira, outro fator importante para essa queda foi a falta de investimento federal para a ciência nos últimos quatro anos.

A avaliação da produção científica de um país leva em consideração a quantidade de artigos produzidos neles e publicados em periódicos científicos. Ao contrário dos livros, que costumam ser vistos como as principais fontes de conhecimento, são os periódicos que conseguem refletir a produção científica atual de um país. São essas as publicações que divulgam para a comunidade científica (e também para a imprensa e o público interessado) os estudos mais recentes de cada área de pesquisa.

Sendo assim, entender como funciona a publicação em periódicos e como acessá-los é essencial para qualquer um que esteja realizando uma pesquisa – ou querendo adentrar ao mundo acadêmico. Nesse artigo, reunimos todas as informações que você precisa ter!

O que é um periódico científico?

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 6023, descreve o periódico científico como

publicação em qualquer tipo de suporte, editada em unidades físicas sucessivas, com designações numéricas e/ou cronológicas, destinada a ser continuada indefinidamente.

Em geral, essas publicações são feitas em forma de revista – por isso, eles também podem ser chamados de revista científica. No entanto, essa não é a única forma de um periódico: ele também pode se apresentar como um boletim, ou um anuário, por exemplo.

Essas publicações contém artigos científicos, resumos, resenhas que são resultado de pesquisas e da produção intelectual de pesquisadores e pesquisadoras. A maior parte desses textos são produto de pesquisas de pós-graduação, principalmente mestrado e doutorado. Isso ocorre porque além da dissertação/tese, os mestrandos e doutorandos também devem realizar um número de publicações durante a pós-graduação. Pesquisadores ligados às instituições de ensino e pesquisa, bem como os professores, também enviam aos periódicos as suas produções acadêmicas.

Qual a importância dos periódicos para a comunidade acadêmica?

Em suma, os periódicos são verdadeiros acervos de divulgação científica de alta qualidade, relevância e atualização. Sendo assim, são fontes altamente confiáveis para a consulta e levantamento de referência para a elaboração de outras pesquisas – que no futuro também podem virar artigos publicados.

Mas para que isso seja possível, os periódicos estabelecem critérios de avaliação rigorosos sobre quais artigos serão ou não publicados por eles. Uma comissão composta por outros pesquisadores fica a cargo de ler e revisar o conteúdo do artigo, detectando possíveis erros metodológicos, de análise e até mesmo plágios. Essa revisão por pares (isto é, pesquisadores da mesma área de estudos) tende a demorar um tempo, mas é o que confere autoridade ao artigo publicado e notoriedade para o periódico.

Atualmente, existem cerca de 40 mil periódicos científicos no mundo, ao menos 33 mil deles são escritos em língua inglesa. O mais antigo deles é o Philosophical Transactions of the Royal Society of London (Transações Filosóficas da Sociedade Real de Londres) foi fundado em 1665 e foi o responsável pela implementação do sistema de revisão por pares (em inglês, peer reviewed).

Em geral, os periódicos científicos estão vinculados a universidades e institutos de pesquisa. Por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) possui 203 revistas científicas vinculadas aos seus institutos, faculdades e departamentos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ligado ao Ministério do Planejamento, também possui a sua revista. Outro exemplo é a E-Legis, revista eletrônica vinculada ao programa de pós-graduação da Câmara dos Deputados.

Onde e como acessar as publicações dos periódicos?

Até algumas décadas atrás, o acesso aos periódicos dependia da circulação dos seus exemplares físicos, encontrados principalmente nas universidades e nos institutos de pesquisa. Mas com o desenvolvimento da tecnologia e a massificação da internet, ficou mais fácil consultar periódicos completos online. Hoje em dia, por questões econômicas e também de acesso, a maioria dos periódicos (senão todos) estão disponíveis exclusivamente nas suas edições digitais.

Em geral, a melhor forma de acessar os periódicos e suas publicações é acessando o seu site oficial.

Mas diante da facilidade tecnológica, a dificuldade está justamente em saber onde encontrar os periódicos para conseguir consultar seu conteúdo. E também como buscar publicações sobre determinado tema sem ter que consultar periódico por periódico.

A ferramenta de busca do Google Acadêmico é de grande ajuda, mas exige atenção redobrada, já que podem surgir publicações de revistas ou sites pouco confiáveis. Para não correr nenhum risco, o melhor a se fazer é acessar uma base ou banco de dados.

As bases de dados são interfaces que reúnem revistas e publicações em um único lugar. Um exemplo bastante conhecido aqui no Brasil é o portal  SciELO. Já os bancos de dados são interfaces que reúnem conjuntos de bases de dados. O portal Periódicos CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), por exemplo, é um dos maiores acervos científicos do país e integra mais de 455 bancos de dados com revistas e outros documentos científicos.

Esses dois exemplos são de interfaces gerais, que reúnem publicações de periódicos de diferentes áreas do conhecimento. Mas existem bases e bancos de dados específicos de cada área. Recomendamos que você converse com seus professores ou confira se há indicações de bases e bancos de dados no site da instituição que você estuda. Caso contrário, vale uma busca no Google.

Como saber a relevância de um periódico científico?

Os critérios de seleção são importantes para demonstrar um rigor e excelência para a comunidade acadêmica. Aqui no Brasil, o principal sistema de avaliação e classificação de periódicos é o sistema Qualis Periódicos. Criado pela CAPES, existe desde 1988 serve como uma referência de qualidade, a fim de auxiliar a comunidade acadêmica a identificar as publicações (nacionais e internacionais) que possuem maior rigor científico.

Para saber qual o Qualis  de um periódico, é só acessar a plataforma Sucupira e buscar pelo título ou a identificação ISSN dele.

A classificação de qualidade das revistas científicas ocorre a cada quatro anos em duas etapas: uma avaliação geral e a avaliação específica.

A avaliação geral é a mesma forma para todos os periódicos, independente de qual área do conhecimento ele se encaixa. Dentre os parâmetros avaliados, um dos mais importantes é o Fator de Impacto, que verifica o número de leituras e citações que os artigos publicados no periódico têm. Ele é medido pelo órgão internacional Institute for Scientific Information (ISI).

Já a avaliação específica é feita através de comitês, compostos por consultores de cada área, que definem quais critérios serão avaliados.

Combinadas, as duas avaliações geram uma nota, que divide os periódicos nas seguintes categorias:

  • A1 – de maior relevância;
  • A2;
  • B1;
  • B2;
  • B3;
  • B4;
  • B5; e, por fim,
  • C.

A partir desses parâmetros, fica fácil identificar também a circulação das publicações pois os periódicos A1 e A2 são considerados os de excelência internacional; enquanto os B1 e B2 possuem excelência nacional; B3, B4 e B5, média relevância nacional e, C, um periódico de baixa relevância nacional.

Como publicar artigo em um periódico científico?

Agora que você já sabe mais detalhes sobre o que é, a importância e o acesso aos periódicos, vamos te mostrar como funciona a publicação de artigos neles.

A primeira coisa que você precisa saber é que existem períodos específicos para a submissão de textos para a publicação. Existem revistas que publicam semestralmente, outras bimestralmente ou trimestralmente. Então, atenção ao calendário! A partir do momento em que o período de submissões abre, você precisa enviar o texto (e um resumo) completo e revisado.

E assim que o edital de submissão for aberto, não deixe de lê-lo atentamente. Muitas revistas estruturam suas edições temáticas e se o seu artigo não se encaixa nele, dificilmente será aceito para publicação. Outras fazem publicações mais gerais nas suas áreas do conhecimento.

Conferir e seguir todas as exigências do edital com relação às normas e a formatação do artigo enviado também é essencial. Os periódicos tendem a ser inflexíveis em relação às exigências de submissão. Enviar o artigo no formato errado ou fora das normas é passível de reprovação.

Por último, lembre-se sempre que a publicação em periódico exige exclusividade. Isso significa que você não pode publicar um mesmo artigo em várias revistas. Em caso de submissão e aprovação em mais de uma, não deixe de avaliar qual é a revista mais relevante para a publicação e se comunicar com o comitê para retirar a publicação da outra.